Nesta primeira aula do curso de ESG, vamos explorar as origens do conceito de desenvolvimento sustentável, a evolução histórica e os principais eventos e documentos que fundamentaram essa ideia no cenário internacional.
O ponto de partida para compreender o desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento tecnológico e econômico das sociedades, principalmente após a Segunda Guerra Mundial.
O avanço industrial e o aumento da capacidade produtiva levaram a mudanças significativas nos padrões de consumo. A sociedade passou a consumir recursos naturais renováveis e não renováveis em ritmo acelerado, o que provocou sérios impactos ambientais.
A partir da década de 1950, cientistas e estudiosos começaram a alertar sobre os riscos desse modelo de desenvolvimento.
Pesquisas passaram a indicar preocupações com o esgotamento dos recursos naturais, especialmente os não renováveis, caso o consumo continuasse sem controle. Foi nesse contexto que nasceu o movimento ambientalista, entre os anos 1950 e 1960.
O ambientalismo se estruturou como um movimento social descentralizado, reunindo ONGs, associações e fundações preocupadas com a degradação ambiental. Surgiram então importantes organizações como o Greenpeace e o WWF, que passaram a pressionar por mudanças na forma como os países lidavam com os recursos naturais.
Na década de 1970, essa preocupação passou a mobilizar também a Organização das Nações Unidas (ONU), que reconheceu a dimensão global da crise ambiental.
Por meio da Resolução 2.398, a ONU convocou a Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, considerada o primeiro grande marco do debate ambiental internacional.
Essa conferência teve uma preparação prévia em 1971, na Suíça, e foi marcada por tensões entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.
Os países em desenvolvimento questionavam por que deveriam renunciar a um crescimento industrial semelhante ao que os países ricos já haviam realizado, mesmo que isso envolvesse degradação ambiental.
Apesar disso, durante a conferência, prevaleceu a compreensão da necessidade de uma união global para lidar com o problema. Foi nesse cenário que surgiu o termo "ecodesenvolvimento", proposto pelo economista Ignacy Sachs.
Esse conceito buscava a harmonização entre os objetivos sociais, econômicos e a gestão ecologicamente prudente dos recursos. Ou seja, o desenvolvimento deveria respeitar os limites ambientais, promovendo equidade social e considerando as peculiaridades culturais e geográficas de cada região.
Sachs também propôs as cinco dimensões da sustentabilidade:
Na década de 1980, o conceito de ecodesenvolvimento evoluiu para o termo que conhecemos hoje: desenvolvimento sustentável.
Essa definição foi consolidada inicialmente em 1986, durante a Conferência Mundial sobre Conservação e Desenvolvimento, promovida pela organização International Union for Conservation of Nature (IUCN).
O desenvolvimento sustentável passou a ser entendido a partir de quatro princípios:
Em 1987, o conceito ganhou expressão internacional com o lançamento do relatório da ONU intitulado "Nosso Futuro Comum" (Our Common Future), também conhecido como Relatório Brundtland. A definição apresentada nesse documento é até hoje uma das mais citadas:
"Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades."
Esse relatório não apresentou um plano de ação detalhado, mas trouxe um importante alerta: era preciso limitar o uso de recursos naturais para não comprometer o futuro da humanidade.
O desenvolvimento sustentável, então, passou a ser tratado como um objetivo político internacional comum, demandando cooperação global.
A partir do Relatório Brundtland, surgiu a necessidade de uma nova conferência internacional.
Foi assim que, em 1992, ocorreu no Rio de Janeiro a Eco-92 (ou Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento).
Essa conferência resultou em importantes compromissos internacionais, com a assinatura de dois tratados: a Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) e a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
Também foram elaborados três documentos não vinculantes, mas de grande relevância:
Esse é o panorama introdutório da história do desenvolvimento sustentável.
Após a Rio 92, um marco importante foi a Rodada de Doha, realizada em 2001 no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC).
Nessa conferência, os países discutiram a relação entre comércio e meio ambiente, reconhecendo que era necessário reduzir barreiras alfandegárias e o protecionismo, especialmente nos países em desenvolvimento, para viabilizar um crescimento econômico sustentável.
A partir de então, a própria OMC passou a integrar o desenvolvimento sustentável entre suas preocupações estruturais.
Em 2002, ocorreu a Rio+10, também chamada de Cúpula de Joanesburgo, cujo objetivo era revisar os compromissos assumidos na Rio 92.
No entanto, a conferência foi duramente criticada. Apesar de resultados econômicos positivos em alguns países, não houve avanços sociais significativos, o que revelou a fragilidade da implementação dos compromissos assumidos dez anos antes.
O desenvolvimento observado não estava sendo acompanhado de efetiva inclusão social e redução das desigualdades. Muitos discursos se revelaram retóricos e distantes de ações concretas.
A Rio+20, em 2012, teve como principal objetivo a reafirmação dos compromissos anteriores.
O grande destaque foi o conceito de economia verde, entendido como a articulação entre crescimento econômico, erradicação da pobreza, inclusão social e conservação ambiental.
A economia verde deveria impulsionar o bem-estar humano e gerar trabalho decente, ao mesmo tempo em que preserva os ecossistemas do planeta.
Entretanto, o documento final da conferência, intitulado "O Futuro que Queremos", recebeu críticas. Embora tenha reconhecido a relevância da economia verde, faltou consenso sobre o que isso significava concretamente para cada país.
Como resultado, os compromissos ficaram vagos, e os países mantiveram autonomia ampla para definir suas próprias ações, dificultando a implementação coordenada das políticas sustentáveis.
Em 2015, durante a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, foi lançada a Agenda 2030, uma proposta global de plano de ação para o desenvolvimento sustentável até o ano de 2030.
Essa agenda foi formalizada por meio da Resolução 70/1, intitulada "Transformando o Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável".
A partir dela, foram definidos os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que englobam metas concretas e indicadores que os países devem perseguir. Esses objetivos incluem, entre outros:
Cada país comprometeu-se a alinhar suas políticas públicas com esses objetivos, monitorando o progresso por meio de indicadores técnicos.

Ainda em 2015, durante a COP21 (21ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudança do Clima), foi firmado o Acordo de Paris, com três compromissos centrais:
O Brasil, por exemplo, comprometeu-se a reduzir suas emissões em 37% até 2025 e 43% até 2030, em relação aos níveis de 2005.
Em 2021, ocorreu a COP26, em Glasgow, na Escócia. Dois grandes compromissos se destacaram:
Além disso, foram concluídas as regras de operacionalização do artigo 6º do Acordo de Paris, que trata do funcionamento dos mercados globais de carbono — um mecanismo de compra e venda de créditos de carbono entre países.
Por fim, vale destacar que a pandemia da COVID-19 serviu como catalisadora das discussões sobre sustentabilidade. Ela evidenciou a interdependência entre saúde pública, meio ambiente, economia e sociedade.
Ficou clara a importância de empresas e governos adotarem práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governança) como parte essencial de suas estratégias.
A crise sanitária mostrou que o desenvolvimento sustentável não é apenas um ideal, mas uma necessidade prática para a sobrevivência e o equilíbrio do planeta.
| Ano | Evento | Principais Contribuições |
|---|---|---|
| 1972 | Conferência de Estocolmo | Primeira conferência internacional sobre meio ambiente. Introdução do conceito de ecodesenvolvimento. |
| 1987 | Relatório Brundtland | Definição de desenvolvimento sustentável. Alerta para limites do crescimento e preservação para futuras gerações. |
| 1992 | Rio 92 (Eco 92) | Tratados sobre biodiversidade e clima, Agenda 21 e Declaração do Rio. |
| 2002 | Rio+10 (Joanesburgo) | Revisão da Rio 92. Falta de avanços sociais e críticas à implementação dos compromissos. |
| 2012 | Rio+20 | Introdução da economia verde. Documento "O Futuro que Queremos". |
| 2015 | Agenda 2030 e Acordo de Paris | Lançamento dos 17 ODS e metas climáticas globais com o Acordo de Paris. |
| 2021 | COP26 (Glasgow) | Reforço do limite de aquecimento global. Regulação do mercado de carbono e meta global para redução do metano. |