Até meados do século XIX havia forte ingerência da religião no Estado. Desde antes da ascensão do Cristianismo no mundo, as comunidades judaicas recriminavam o que era denominado por eles de “libertinagem” — ou seja, toda relação afetivo-sexual sem fins reprodutivos. Por isso, as práticas homossexuais começaram a ser condenadas, já que entravam no conceito de libertinagem.
Com a ascensão do Cristianismo e a aliança entre essa instituição e o Estado, as penas a quem realizava atos de libertinagem começaram a ganhar força e a ser cada vez mais violentas. Com o tempo, o foco da punição passou a ser não quem cometia atos de libertinagem, mas quem se relacionava com pessoas do mesmo sexo. As punições exemplares eram amplamente aplicadas, como desmembramentos, punições com fogo etc.
No Brasil, antes da colonização portuguesa, a maioria das comunidades ameríndias considerava gênero em três vertentes: masculina, feminina e “dois espíritos”, sendo comum a relação indígena entre pessoas do mesmo sexo. A partir da colonização, essa prática foi criminalizada e considerada paganismo.
O primeiro caso conhecido de “homofobia” no Brasil foi em relação a um indígena da tribo Tibira, em 1614. Ele era considerado um “dois espíritos” e, quando descoberto pelos colonizadores, foi punido severamente — assassinado amarrado em um canhão. A vedação à homossexualidade perdurou e foi cristalizada no Brasil Imperial, no Código Penal do Império de 1830, que tipificava a sodomia.
O marco que deu início ao movimento LGBTQIA+ foi a Revolta de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969 em Nova York, nos Estados Unidos. O contexto da época era de criminalização da homossexualidade; em 1968, um ano antes da revolta, cerca de 5 mil pessoas estavam presas por crimes relativos à orientação sexual na cidade. Havia uma lei, desde 1875, que proibia o uso de roupas ou adereços que não fossem próprios da expressão correspondente ao sexo da pessoa.
O estopim da revolta foi a invasão e repressão policial no bar Stonewall Inn, um dos poucos locais que acolhiam pessoas LGBTQIA+, servindo de ponto de encontro entre elas. Após a invasão, as pessoas ligadas à causa organizaram uma grande marcha pela visibilidade da luta das pessoas LGBTQIA+. Foi a primeira parada do orgulho e um marco do início do movimento pelos direitos sexuais das pessoas LGBTQIA+ em um contexto mundial também marcado por lutas pelos direitos e liberdades civis.
Cumpre destacar o papel de Marsha P. Johnson, que após o ocorrido em Stonewall percebeu a importância da luta política pelos direitos da população LGBTQIA+, em especial da população transgênero, da qual era representante. Foi idealizadora da Street Transvestite Action Revolutionaries (S.T.A.R.), organização que abrigou e acolheu centenas de jovens transgêneros e drag queens em Nova York. Sobre a vida de Marsha, recomenda-se o documentário A Morte e Vida de Marsha P. Johnson, produzido pela Netflix.
No Brasil, o movimento organizado surgiu no contexto das repressões perpetradas pela Ditadura Militar (1964–1985). Na época, alguns movimentos organizados de combate à ditadura foram fortalecidos, em especial compostos por estudantes e operários. Também em razão da censura foi criada e fomentada a imprensa alternativa. Alguns destaques dessa imprensa foram o Lampião da Esquina (1978–1981) e a Chanacomchana (1981–1987), considerada a primeira publicação lésbica brasileira.
No Brasil, houve uma revolta conhecida como “a Stonewall Brasileira”, no Ferro’s Bar, que deu origem ao Dia do Orgulho Lésbico no país. O Ferro’s Bar era um ponto de encontro de pessoas LGBTQIA+ na cidade de São Paulo e também onde se veiculavam as edições do jornal Chanacomchana. No dia 19 de agosto, o dono desse bar proibiu a distribuição do jornal dentro do estabelecimento, sob o pretexto de que ele feria os bons costumes. Essa proibição gerou uma grande revolta por parte das mulheres que frequentavam o bar. Em razão disso, o dia 19 de agosto é conhecido nacionalmente como Dia do Orgulho Lésbico.